BOLETIM ENCOD SOBRE POLITICAS DE DROGAS NA EUROPA
NR. 56 OUTUBRO DE 2009
LEMBRANDO A JAN VAN DER TAS
Dez meses depois que lhe encontraram um tumor cerebral, o antigo membro do Comité Executivo de Encod, Jan van der Tas, faleceu, no dia 10 de Setembro de 2009.
Jan van der Tas nasceu em Haia em 1928. Como adolescente, viveu os horrores da segunda Guerra Mundial, o que no seu caso significou o fome e o temor de ser capturado e obrigado a trabalhar nas fábricas alemãs.
Depois de uma curta estadia na Marinha da Holanda, Jan começou sua carreira profissional em 1960 como funcionário do corpo diplomático holandês em Bruxelas. Tendo conhecido os “pais fundadores” da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, que mais tarde se transformou na União Europeia, obteve uma ampla experiência.
“Esperávamos encontrar fórmulas para não só evitar uma nova guerra, mas por outro lado juntar todos os talentos da Europa e incentivá-los colaborar construtivamente a fim de desenhar políticas que gerariam a prosperidade. Isso parecia uma teoria maravilhosa, mas com os anos vimos como os interesses separados de países, empresas e indivíduos mataram a espontaneidade inicial.”
Depois de haver cumprido serviços na Indonésia, França, México e no Reino Unido, Jan chegou a ser embaixador da Holanda na Síria e na Alemanha, antes de aposentar-se em 1993. Foi Rita Süssmuth, do Partido Democrata Cristão CDU e presidente do parlamento alemão, quem o inspirou a começar a sua segunda carreira como activista pela reforma da política de drogas. Referindo-se à política liberal de drogas que os Países Baixos praticavam desde fins dos anos 70, ela tinha-lhe dito que “é bom saber que o seu país pode ser pioneiro na busca de soluções para assuntos sociais, já que os países maiores e lentos não são capazes.”
As drogas em si foram um terreno completamente desconhecido para ele, mas um profundo interesse no tema da política de drogas chegou-lhe naturalmente durante sua estadia em Bona, a que coincidiu com os conflitos diplomatas prolongados entre a Alemanha e a Holanda. Sua substância psicoactiva favorita era a cerveja, especialmente as cervejas belgas como Duvel. Repetidas sugestões para tentar pelo menos uma da gama de outras drogas disponíveis, mesmo que fossem ilegais, não o convenceram.
O seu interesse no tema das drogas foi intelectual e baseado em princípios. Continuamente refinava as suas posições e declarações, que baseava sobre um profundo conhecimento e compreensão do funcionamento das burocracias em Haia, Bruxelas, Viena e Nova York. Para muitos de nós que planejamos actividades em Bruxelas explicava a estrutura complicada da União Europeia, acrescentando anedotas suculentas de seus anos no serviço diplomata.
“Não deveríamos ter uma política europeia de drogas a qualquer preço. Uma integração de cima a baixo das diferentes formas em que as drogas se consideram nos diferentes países poderia significar que se sacrificariam objectivos eficazes orientados à saúde pública para cumprir com uma agenda essencialmente destinada para a ordem pública e à luta contra o crime. Ao mesmo tempo, seria uma boa ideia se a União Europeia começasse a formar um contrapeso à pressão dos EUA para continuar no caminho actual. Por tanto necessitamos uma série de princípios comuns, na qual aceitamos que não podemos coincidir em tudo, mas seguimos respeitando-nos um ao outro.”
Jan serviu como membro do Comité Executivo da Fundação para a Política de Drogas da Holanda durante muitos anos, e da ENCOD entre 2005 e 2007. Foi uma força constante nas actividades de ambas organizações, sobretudo em relação ao trabalho de lobby.
“Devemos criar uma situação em cada país na qual associações de cidadãos tentem regularmente participar do debate das drogas, oferecendo reacções bem argumentadas e formuladas sobre qualquer evento, ou acontecimento, particularmente relacionado com a política de drogas comentado nos meios de comunicação. Deveríamos criar um banco de dados comum de argumentos confiáveis, que as pessoas possam utilizar quando tenham a oportunidade.”
Adeus Jan. Sentimos muitíssimo a falta da tua estimuladora presença e calorosa personalidade.
Por Fredrick Polak e Joep Oomen